Vagueio-me pelas ruas frias, cinzentas e monótonas da cidade. Olho em volta e tudo me parece igual. Com um olhar mais atento reparo num brilho, um brilho único, como nunca tinha visto. Aproximo-me dele, furando a massa de gente que pelas ruas caminhava, deparando-me com um espelho, um grande e bonito espelho que me fazia lembrar a minha doce e feliz infância.
"Que crime!" - disse eu, quando reparo que todo ele está desfeito em mil e um bocados. Fico a olhar para ele, focado em todos os seus belos pormenores - as suas linhas, a sua forma e, claro está, o seu brilho intenso que me ofuscava. Aquele brilho parecia que me hipnotizava, parecia que me queria dizer qualquer coisa, que queria falar comigo em primeira pessoa. Ali estava eu, como se congelado e não me conseguia mexer. A multidão de gente tinha-se transformado numa grande, espessa e densa nébula. Esfreguei os olhos e vi algo reflectido em todos os mil e um pedaços daquela obra de arte. Todos eles, cada um deles, de forma única mostravam um sorriso, um olhar, uma expressão, um momento e um pedaço de alguém - alguém que eu queria descobrir.
Comecei a juntar todos os cacos, pedaço a pedacinho, como se de um puzzle se tratasse. Bocado ali, bocado acolá e a imagem começou a surgir. Fiquei ali, no meio da rua e de costas curvadas, à procura da pessoa que se escondia por detrás do espelho.
"Acabei!" - gritei eu, ficando novamente congelado e num estado de silêncio gélido depois de ter visto a imagem final daquele puzzle de cristal. Sim, eras
tu.
Para qualquer lado que vá vejo-te reflectida em tudo.
Afinal o espelho não passava de um espelho, admito que belo, mas não passava disso. A origem de todo aquele brilho, daquele "frio na espinha" e toda aquela multidão de sentimentos em mim...
eras tu!
Tu és o reflexo de mim.Adoro-te, amiga *
(24/10/2007)